sábado, 24 de outubro de 2009

Crise de 1929 começa com quebra da Bolsa de NY e espalha pânico

VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online

John Kenneth Galbraith, um dos principais economistas do século 20, escreveu que o dia 24 de outubro de 1929 foi o primeiro dos que ficaram associados ao que veio se tornar conhecido como a Grande Depressão: nesse dia, a Bolsa de Valores de Nova York sofreu uma forte queda durante o pregão (que chegou a quase 11%), com o movimento de pouco menos de 13 milhões de ações, indicando o pânico dos investidores --um dia antes o movimento havia sido de pouco mais de seis milhões.

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No fim do dia, no entanto, houve uma recuperação, fechando com queda de apenas 2%; o pior ainda estava por vir. O dia 29, uma terça-feira, foi, segundo Galbraith, "o dia mais devastador da história do mercado de ações de Nova York, e possivelmente o dia mais devastador da história de todos os mercados". No fim daquele dia a Bolsa de Valores de Nova York teve perda de 11,7% --depois de cair cerca de 16% durante o dia, entre a abertura dos negócios e o pior momento.

Quando atingiu o ponto mais baixo, em 1932, a Bolsa estava 89% abaixo do momento de pico, em setembro de 1929.

A Grande Depressão que se seguiu foi um período de forte retração na economia que prosseguiu ao menos até 1939. O "New York Times" descreveu da seguinte forma o que aconteceu na Bolsa há 80 anos:

"Os preços das ações virtualmente desabaram, jogados para baixo com perdas gigantescas no dia de negócios mais desastroso na história dos mercados (...) As operações na Bolsa totalizaram 16,410 milhões de ações (...) o total excede de longe o de qualquer dia anterior [em março de 1928 o volume era de 3,8 milhões, um recorde até então]. De todos os pontos de vista, na extensão das perdas, na movimentação total, no número de especuladores tirados de cena, o dia foi o mais desastroso na história de Wall Street. A histeria varreu o país."

Mesmo o abalo que o mundo sofreu desde 2008 com a crise financeira e econômica atual --e os milhões de desempregados que deixou no mundo todo atestam a força desse abalo--, 1929 e a Grande Depressão que se seguiu ainda permanecem como a referência do tipo de catástrofe que a especulação financeira pode causar.

As imagens deixadas pela Grande Depressão não são bonitas. Filas de muitas centenas de pessoas esperando para se servir de um pedaço de pão e um prato de sopa, vestidas em trapos. Famílias vagando pelas ruas de grandes cidades, principalmente Nova York, com pais que não tinham ocupação e filhos que não tinham comida. Pessoas que não tinham nada.

Milhares de pequenos agricultores venderam o que puderam, por qualquer preço, juntando suas últimas posses e partindo para o que pensavam ser a única esperança, a Califórnia --o que, no fim, se provou apenas uma miragem. Essa parte da história pode ser encontrada em livros didáticos e em trabalhos de cunho mais analítico e científico, mas o drama dessas pessoas é melhor percebido no romance de John Steinbeck, "As Vinhas da Ira".

Ainda segundo Galbraith, no entanto, ninguém foi responsável pela quebra da Bolsa e ninguém criou o sistema de especulação que inflou o mercado e levou ao "crash". "As duas coisas resultaram da livre escolha e decisão de centenas de milhares de indivíduos. Estes não foram levados para o matadouro. Foram impelidos a ele pela loucura contagiosa que sempre atacou as pessoas que já estão atacadas pela ideia de que podem tornar-se muito ricas."

A quebra da Bolsa, no entanto, apenas marcou definitivamente na história um período que, no entanto, já era de fraqueza nos EUA. O Nber (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês), que avalia quando recessões começam e acabam nos EUA, aponta que na década de 20 do século passado a economia americana passou por quatro recessões (o instituto registra a duração das recessões em meses, e não em trimestres, como é mais comum).

A que começou pouco antes do "crash" da Bolsa foi a maior do século passado, com 43 meses --entre agosto de 1929 e março de 1933. E em maio de 1937 teve início outra, que duraria 13 meses.

Só se encontra uma recessão de duração maior nos registros do Nber na ocorrida entre outubro de 1873 a março de 1879 --65 meses de duração.
Confira a variação anual do índice Dow Jones
Ano Pontuação Variação
1920 71,95
1921 81,1 12,72%
1922 98,73 21,74%
1923 95,52 3,25%
1924 120,51 26,16%
1925 156,66 30%
1926 157,2 0,34%
1927 202,4 28,75%
1928 300 48,22%
1929 248,48 -17,17%
1930 164,58 -33,76%
1931 77,9 -52,67%
1932 59,93 -23,07%
1933 99,9 66,69%
1934 104,04 4,41%
1935 144,13 38,53%
1936 179,9 24,82%
1937 120,85 -32,82%
1938 154,76 28,06%
1939 150,24 -2,92%
1940 131,13 -12,82%
1941 110,96 -15,38%
1942 119,4 7,61%
1943 135,89 13,81%
1944 152,32 12,09%
1945 192,91 26,65%
Fonte: Ipea

Sinais

O que houve naquele dia de outubro foi que os americanos foram trazidos à realidade por um choque, com a quebra da Bolsa, mas já havia avisos e alertas. Em novembro de 1925, pouco menos de quatro anos antes da crise, o "New York Times" já apontava semelhanças entre a agitação no mercado financeiro em 1929 e outras manias, e afirmava a necessidade de se manter um olhar cético sobre o ritmo de alta do mercado.

O país já tinha visto uma bolha em passado recente, no setor imobiliário da Flórida. A expectativa de que o Estado se tornasse já naquela época um recanto de férias e lazer levou especuladores a explorarem o mercado --embora muitos dos lotes ficassem a quilômetros das praias e não houvesse infraestrutura urbana quase nenhuma. Em 1926 a demanda começou a diminuir e a euforia passou. Embora não causasse perdas catastróficas, o "boom" seguiu uma espécie de "roteiro das bolhas": euforia inicial, saturação e em seguida queda de demanda e preços.

O Fed (Federal Reserve, o BC americano) chegou a advertir em fevereiro de 1929, em duas ocasiões, que não permitiria que fossem tomados recursos do banco para alimentar o financiamento de compras especulativas de ações --naquele mês informou que restringiria o uso do dinheiro do banco para esse fim, deixando poucos recursos para o comércio e outros setores da economia. Fevereiro foi um mês fraco, mas o mercado se recuperou.

Mas os avisos não chegaram aos ouvidos que mais deviam ter escutado os alertas. Em fins de março, Charles Mitchell --um dos diretores do Fed e presidente do National City Bank, instituição que viria a se tornar o Citibank, já então um dos maiores bancos americanos--, disse que a instituição que comandava liberaria os recursos de que o mercado necessitasse para que o mercado se mantivesse em alta, o que minou a autoridade do Fed.

Otimismo

O otimismo, assim, invadiu a percepção de todos, inclusive de especialistas. A Sociedade de Economia da Universidade Harvard chegou a prever que, no verão (inverno no hemisfério Norte) de 1929, o mercado sofreria um declínio; como o declínio não veio, manteve a opinião positiva para os negócios. Em novembro, já após o "crash", a sociedade descartou o risco de uma depressão grave.

Herbert Hoover disse em 1928, quando foi nomeado para disputar a Casa Branca pelo Partido Republicano (e que assumiu a presidência em março de 1929): "Nós, nos Estados Unidos, estamos hoje mais perto do triunfo final sobre a pobreza do que nunca antes na história, em qualquer lugar".

Outro que acabou desacreditado por suas declarações dias antes da quebra foi o economista Irving Fisher, que disse que "os preços das ações atingiram o que parece um patamar permanentemente alto". Fisher se destacou por suas contribuições intelectuais, como sua teoria do juro e do capital, mas essa declaração --e outras, como: "Espero ver o mercado de valores bem mais alto do que está hoje, dentro de poucos meses"-- tirou um pouco de seu brilho.

Desemprego

Com a quebra da Bolsa, o número de falências pessoais (nos EUA é possível uma pessoa se declarar falida) passou a crescer. Desse modo, o consumo registrou um declínio acentuado e que só se aprofundou ao longo dos anos seguintes. Com o consumo em baixa, empresas começaram a quebrar, demitindo funcionários.

A perda de empregos em grande número, por sua vez, reduziu mais ainda o consumo, que levou mais empresas à falência e mais demissões, gerando uma espiral que, à época, parecia que não teria fim.

A situação do desemprego foi crítica para que os efeitos da quebra da Bolsa se tornassem cada vez mais graves. Em abril de 1929, 1,6 milhão de pessoas estavam sem emprego -o que representava 3,2% da força de trabalho. Em abril de 1932, perto de 13 milhões de pessoas estava sem trabalho -ou quase 25% da força de trabalho do país. Em algumas cidades do país, o número de desempregados chegava a 50% da força de trabalho local, e em outras essa proporção era muito maior.

A situação em que o país caiu também se alimentou de outros detalhes, que já vinham despontando mesmo antes da quebra da Bolsa --a agricultura, por exemplo, se encontrava em situação crítica: a produção dos fazendeiros americanos ficou sem mercado. Estimulada em anos anteriores para abastecer o mercado europeu, ainda se recuperando da guerra, a produção excedente se tornou um problema, por não ter para onde escoar depois que a Europa conseguiu se reerguer. Os preços desabaram.

Depressão

A ligação entre a quebra da Bolsa e a Grande Depressão ainda é objeto de controvérsia na história econômica. Como se viu acima, os EUA já estavam no início de uma recessão --que poderia talvez não ter sido tão longa--; o "crash" da Bolsa, portanto, não poderia tê-la causado.

Uma resposta possível é a sugerida pelo historiador Edward Chancellor, em seu livro "Salve-se Quem Puder - Uma História da Especulação Financeira": as expectativas dos americanos quanto ao futuro, depois da prosperidade vista nos anos antes, sofreram um choque. "Quando os valores dos ativos declinaram, devastando o sistema bancário, uma psicologia do medo substituiu o otimismo da década anterior", disse.

Os anos 20 do século passado, escreve Chancellor, "foram um período em que as pessoas mostraram capacidade para sonhar, fé no futuro, um apetite empreendedor pelo risco e a crença na liberdade individual". Esse espírito --ou pelo menos no grau de intensidade em que era percebido-- se desfez após o "crash".

A crise financeira e econômica pela qual o mundo passa hoje --e que, segundo as avaliações de especialistas e de órgãos como o FMI (Fundo Monetário Internacional), já está perto do fim-- mostra que esse mesmo espírito, embora tenha se desfeito, não desapareceu, e já há quem procure prever quando surgirá de novo --e se trará uma nova crise.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Liberalismo e Neoliberalismo sofrem rude golpe com a estatização da General Motors (GM)

General Motors (GM) coloca os Estados Unidos da América (EUA) na contramão do Liberalismo e do Neoliberalismo

O começo do fim do Liberalismo e do Neoliberalismo

Folha de S. Paulo

Manchete: GM deve pedir concordata nos EUA
Montadora, que já foi a maior do mundo, entra hoje na Justiça; participação do governo pode superar 57%

Após 101 anos no mercado, a General Motors, que já foi a maior montadora do mundo, deve pedir hoje concordata na Justiça dos EUA.

A maioria dos credores de uma dívida de US$ 27 bilhões da montadora aceitou trocar os débitos por 25% da "nova GM", que deve emergir do processo. Será a maior concordata da história da indústria dos Estados Unidos.

A General Motors acumula perdas de mais de US$ 88 bilhões desde 2004. Espera-se que a montadora faça acordos prévios, evitando conflitos na Justiça. A previsão é que a companhia deixe a concordata até agosto. (págs. 1 e Dinheiro)

Trata-se do fim de uma era

Não é coincidência o Século Americano coincidir com a trajetória da GM.

O choque da queda foi amortecido por outros colapsos corporativos. Mas a frase "o fim de uma era" se aplica neste caso. (págs. 1 e B1)

domingo, 24 de maio de 2009

Presidente do BM diz que recuperação será lenta e de "baixa intensidade"

Madri, 24 mai (EFE).- O presidente do Banco Mundial (BM), Robert Zoellick, disse acreditar que a recuperação econômica demorará para chegar e que, quando isso acontecer, será "de baixa intensidade durante um tempo prolongado", porque a indústria ainda não estará funcionando plenamente e o desemprego vai continuar subindo.

Em entrevista ao jornal espanhol "El País", Zoellick declara que "ninguém sabe com certeza o que vai acontecer", apesar de que haja quem defenda que já há "focos" de uma saída da crise.

Na opinião do presidente do BM, há um "elevado grau de incerteza" e muitos riscos, entre os quais cita o sistema financeiro americano, o qual "é preciso continuar saneando", assim como o perigo do protecionismo e o aumento da dívida privada nas economias emergentes.

Zoellick também disse considerar como pouco provável a repetição de uma depressão como a vivida nos anos 1930, mas acrescentou que, "caso isso aconteça, seria terrível", porque teria um custo social "imenso" principalmente nos países em desenvolvimento.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Medidas já anunciadas no Brasil para combater os efeitos da crise norte-americana que se tornou sistêmica, global, planetária

da Folha Online

O governo já anunciou uma série de medidas para evitar uma piora no sistema financeiro e nos setores atingidos pelos efeitos da crise. Veja as principais:

2009

17 de abril

O Ministério da Fazenda ampliou a lista de materiais de construção que terão isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) nos próximos três meses. A nova lista inclui mais seis tipos de produtos, entre eles impermeabilizantes, revestimentos cerâmicos, cadeados e registros de gaveta. A isenção vale até 16 de julho.

Além disso, foi reduzido o IPI da linha branca --geladeiras, fogões, máquinas de lavar e tanquinhos. as alíquotas do IPI vão de 15% para 5% para as geladeiras, de 5% ou 4% para 0% nos fogões, de 20% para 10% para as máquinas de lavar, e de 10% para 0% para os tanquinhos.

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16 de abril

O CMN (Conselho Monetário Nacional) anunciou a liberação de mais R$ 12,6 bilhões em crédito para as empresas do agronegócio. A maior parte do dinheiro, R$ 10 bilhões, será para uma linha que deve atender principalmente frigoríficos e empresas do setor de aves, suínos e carnes bovinas.

CMN também anunciou a criação de uma linha de crédito de R$ 2,3 bilhões para estocagem da produção de álcool durante a safra deste ano. O objetivo do governo é evitar as variações de preços que ocorrem entre o período de produção e a entressafra.

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15 de abril

O governo anunciou que reduzirá o aperto fiscal deste ano ao menor patamar desde o início do programa de contenção da dívida pública, há dez anos. O objetivo é ter mais dinheiro para investir em momentos de crise, uma vez que a arrecadação de impostos caiu com as desonerações fiscais anunciadas. Além disso, a Petrobras, maior empresa estatal, foi liberada da obrigação de controlar gastos e poderá ampliar seus investimentos em R$ 15,5 bilhões.

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13 de abril

Os 5.564 prefeitos vão receber um reforço de até R$1 bilhão para compensar as perdas nos repasses do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) por conta da queda da arrecadação. O governo prevê que esse é o tamanho do impacto da crise financeira internacional para os municípios.

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30 de março

O governo federal anunciou a prorrogação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido para o setor automotivo por mais três meses (até junho), mas com a contrapartida da manutenção dos empregos pelas montadoras. Também estendeu o benefício para s motocicletas e para materiais de construção (muitos produtos tiveram a alíquota zerada).

O governo, por decreto, ampliou a lista dos setores considerados prioritários na área da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) --têm isenção de IR (Imposto de Renda) de pessoas jurídicas.

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26 de março

O governo criou um sistema de garantias para aumentar os recursos para bancos médios e pequenos. A medida deve representar uma injeção de pelo menos R$ 40 bilhões.

O FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que hoje garante os depósitos até R$ 60 mil por CPF (pessoa física) ou CNPJ (empresas), vai garantir agora um novo tipo de CDB (Certificado de Depósito Bancário). O total de depósito a prazo de cada correntista contra a mesma instituição poderá ser garantido até o valor máximo de R$ 20 milhões.

Além disso, o Banco Central prorrogou de 31 de março para 30 de junho o prazo pelo qual os grandes bancos poderão descontar do depósito compulsório a prazo as compras de carteiras de crédito e outros ativos dos bancos de menor porte.

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10 de março

O Conselho Nacional de Previdência Social ampliou o limite de empréstimo do consignado para aposentados. O beneficiário poderá voltar a comprometer até 30% da sua renda com empréstimos com desconto em folha. O limite é o mesmo que estava em vigor até maio do ano passado, quando o Conselho dividiu o percentual em duas partes: 20% para empréstimos consignados e 10% para uso no cartão de crédito consignado.

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22 de janeiro

Governo anunciou recursos adicionais para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) no valor de R$ 100 bilhões para os anos de 2009 e 2010. Esse dinheiro virá por meio do caixa do governo e das captações feitas no exterior pelo Tesouro Nacional.

O dinheiro ficará disponível para o banco, que irá sacar conforme necessário. Serão priorizados investimentos na área de gás e energia, bens de capital e infraestrutura, entre outros setores. Também vão garantir os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da Petrobras.

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2008

17 de dezembro

Banco Central divulga que balanço da liberação de depósitos compulsórios, que soma R$ 98 bilhões. O compulsório é o dinheiro dos clientes que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC.

BC também divulga que já fez atuações no mercado de câmbio no valor de US$ 53,4 bilhões entre os dias 19 de setembro e 16 de dezembro para segurar a disparada do dólar.

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16 de dezembro

Os bancos pequenos terão R$ 5,4 bilhões a mais para utilizarem em operações de crédito para pessoas físicas e jurídicas. O CMN (Conselho Monetário Nacional) aprovou hoje a liberação de recursos do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para essas instituições.

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12 de dezembro

O governador de São Paulo, José Serra, anunciou um pacote de medidas fiscais e financeiras para ajudar na redução dos impactos da crise financeira global. Entre as medidas tomadas pelo governo paulista estão uma linha de crédito de R$ 1,2 bilhão para empresas de autopeças e máquinas e mudanças nos regulamentos do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e da Nota Fiscal Paulista.

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11 de dezembro

Governo federal anuncia medidas para reduzir impostos e aliviar os efeitos da crise econômica que pretendem injetar R$ 8,4 bilhões na economia. Entre as principais mudanças anunciadas estão a nova tabela do Imposto de Renda, a redução do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para o consumo e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para as montadoras.

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11 de dezembro

O CMN (Conselho Monetário Nacional) anuncia que vai ampliar as alternativas de aplicação das reservas internacionais do Brasil. O Banco Central ficará autorizado a disponibilizar parte desse dinheiro, por meio dos bancos, para as empresas brasileiras que precisem rolar financiamentos feitos no exterior. O governo estima gastar mais de US$ 10 bilhões das reservas, que hoje estão acima de US$ 200 bilhões.

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1º de dezembro

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anuncia a criação de uma nova linha de capital de giro de empresas brasileiras, de até R$ 6 bilhões. A nova linha visa recuperar a concessão de crédito para as empresas, que segundo o BC (Banco Central) começou a se recuperar, ainda que em patamares tímidos. O prazo da linha vai até 30 de junho de 2009.

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25 de novembro

O Banco Central anuncia novas mudanças nos depósitos compulsórios para destinar mais R$ 6,2 bilhões ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Esse dinheiro faz parte dos R$ 10 bilhões extras anunciados pelo governo no início do mês. O restante já chegou ao BNDES por meio da Caixa Econômica Federal, que irá emprestar o dinheiro para reforçar o capital de giro das empresas nesse momento de crise.

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21 de novembro

O governo publica o decreto que reduz o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) cobrado nos financiamentos para a compra de motos por pessoas físicas. A alíquota agora vai passar de 3,38% para 0,38%. Poderão ser financiadas com imposto mais baixo motocicletas, motonetas e ciclonetas.

No início do ano, o governo elevou o IOF de 1,5% para 3,38% para recompor a perda da CPMF, cuja alíquota era de 0,38% sobre qualquer movimentação financeira.

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16 de novembro

O governo publica medida provisória que altera as datas de pagamento de tributos federais como o IR (Imposto de Renda) recolhido na fonte, a contribuição previdenciária, do PIS/Cofins e o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

O pagamento do IR e da contribuição para a Previdência passam a ser pagos não mais no dia 10, mas no dia 20 do mês seguinte ao fato gerador. O pagamento do IPI será adiado do dia 15 para o dia 25 de cada mês. O PIS/Cofins terá uma ampliação menor de prazo, do dia 20 para 25.

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13 de novembro

BC anuncia nova mudança no compulsório, alterando a forma de recolhimento de cerca de R$ 40 bilhões, o que representa quase 20% de todo o depósito compulsório depositado hoje pelos bancos. O compulsório adicional sobre depósitos à vista, a prazo e poupança (chamado pelo BC de "exigibilidade adicional"), que hoje é recolhido em espécie, passará a ser recolhido em títulos públicos a partir de 1º de dezembro.

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12 de novembro

A Caixa Econômica Federal libera R$ 2 bilhões para financiar bens de consumo diretamente no varejo e estimular a economia brasileira. Segundo informou a instituição nesta quarta-feira, a medida abrange a compra de eletrodomésticos, eletrônico, móveis, TV e vídeo, além de material de construção.

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11 de novembro

O governo de São Paulo lançou uma linha de crédito de R$ 4 bilhões, por intermédio do banco Nossa Caixa, para os bancos e financeiras ligadas às montadoras de veículos em todo o país, que sofrem com a escassez de crédito.

À tarde, a Caixa Econômica Federal divulgou a ampliação do limite de financiamento para compra de material de construção de R$ 7.000 para R$ 25 mil.

À noite, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciou conjunto de medidas de alívio tributário e de aumento do crédito para o setor produtivo para ajudar as pequenas e médias empresas.

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6 de novembro

O ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciou, durante reunião do chamado Conselhão (o CDES, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social), uma série de novas medidas que, juntas, disponibilizam R$ 19 bilhões em linhas de crédito para diversos setores via BNDES (banco estatal de investimento) e Banco do Brasil.

O anúncio com valor mais alto refere-se ao BNDES, que terá mais R$ 10 bilhões para financiar o capital de giro de empresas e para empréstimos em linhas de exportação pré-embarque --ou seja, os valores serão usados para permitir as vendas externas.

Outros R$ 5 bilhões, provenientes do BB (Banco do Brasil), serão usados para abrir uma linha de crédito para capital de giro de pequenas e médias empresas.

Como já era esperado, Mantega confirmou R$ 4 bilhões, também do BB, para ajudar os bancos de montadoras a elevar o crédito aos consumidores.

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5 de novembro

O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) anuncia criação de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão para financiamento dos produtores rurais. O dinheiro será usado para financiar as CPRs (Cédulas do Produtor Rural). A operação da linha será feita pelo Banco do Brasil.

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4 de novembro

Banco Central altera regras para os leilões de empréstimos de dólares destinados a financiar o comércio exterior. Até agora, o BC só havia realizado em leilão desse tipo, no valor de US$ 1,6 bilhão. Pela nova regra, os bancos poderão participar desses leilões de dólares sem apresentar garantias em títulos, como era exigido até hoje. Será feita apenas uma operação de empréstimo de dólares das reservas internacionais por 30 dias. Nessas operações, ao invés de títulos, os bancos dão como garantia o valor dos dólares em reais.

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30 de outubro

BC anuncia regra para forçar os bancos a liberar o crédito obtido com o alívio no compulsório. Hoje, o dinheiro do compulsório sobre depósitos a prazo é recolhido na forma de títulos públicos. Ou seja, o banco recebe uma remuneração igual a do título. Agora, os bancos irão recolher apenas 30% em títulos. Os outros 70% serão recolhidos em espécie, ou seja, vão ficar parados no BC sem remuneração. Para não sofrer essa "punição", os grandes bancos terão de comprar carteiras de crédito e outros papéis de bancos menores que estejam com problemas de liquidez (falta de dinheiro).

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29 de outubro

O Banco Central do Brasil e o Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) anunciaram o estabelecimento de uma linha de "swap" (troca) de dólares americanos por reais no valor de US$ 30 bilhões.

Segundo o BC, essa linha será utilizada para incrementar os fundos disponíveis para as operações em dólares feitas pelo BC no Brasil. Isso inclui os leilões de dólares realizados por aqui. A linha é válida até 30 de abril de 2009.

Já a Caixa Econômica Federal confirmou hoje que irá disponibilizar uma linha de crédito de capital de giro de R$ 3 bilhões para empresas de construção civil. Além disso, o governo vai permitir outros bancos direcionem mais recursos da poupança para essas empresas. O governo vai criar um fundo com base nos dividendos que seriam pagos pela Caixa à União até 2010. O fundo terá de R$ 1,050 bilhão, ou seja, vai garantir 35% das operações.

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27 de outubro

O Banco Central anuncia mais uma mudança nas regras dos depósitos compulsórios recolhidos pelos bancos brasileiros. A medida pode injetar mais R$ 6 bilhões na economia.

Com a mudança, os bancos que anteciparem suas contribuições ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito) no valor de 60 meses terão um desconto no recolhimento do compulsório sobre depósitos à vista. O valor mensal do desconto será o equivalente à contribuição de um mês ao FGC. Os bancos usarão como base o valor recolhido em 1º de outubro, referente ao mês de agosto deste ano.

Hoje, os bancos são obrigados a recolher 42% dos depósitos à vista (dinheiro da conta corrente) feitos pelos seus clientes e depositar o dinheiro em espécie no BC. Esse dinheiro fica parado, sem remuneração, e equivale hoje a cerca de 20% de todo o compulsório recolhido pelo BC.

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22 de outubro

O presidente Lula assinou MP (medida provisória) que autoriza os bancos públicos brasileiros, a Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, a adquirirem participações em instituições financeiras no pais sem passar por um processo de licitação. A MP é ampla (leia íntegra), composta de sete artigos, e inclui todo tipo de instituição financeira: seguradoras, instituições previdenciárias, empresas de capitalização, etc.

À noite, Lula assinou outro decreto que zera a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para a aplicação no mercado de capitais e operação de empréstimos e financiamentos externos. Com a decisão, o capital que entra no país tem maior rentabilidade, ou seja, trazer dólares para o Brasil fica mais atraente ao investidor.

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16 de outubro

O Banco Central anunciou mais uma mudança nas regras dos depósitos compulsórios. Agora, o BC ampliou as possibilidades para que esses bancos possam elevar o dinheiro que têm em caixa com a venda de ativos para bancos maiores.

Além de vender a sua carteira de crédito e títulos dos seus fundos de investimentos, os bancos menores poderão vender outros ativos: 1) títulos e valores mobiliários de renda fixa, adiantamentos e outros créditos de pessoas físicas e jurídicas não-financeiras; 2) depósito interfinanceiro com garantia de ativos elencados no item 1 ou de operações de crédito.

Além disso, o CMN autorizou o Banco Central a determinar que, nas operações de empréstimos em moeda estrangeira, os recursos sejam direcionados para operações de comércio exterior. O BC também fica autorizado a receber debêntures emitidas por empresas não financeiras nas operações de redesconto.

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13 de outubro

O BC informa mais mudanças no compulsório, que significam a liberação na economia de R$ 47,1 bilhões dos R$ 100 bilhões que foram prometidos pela manhã.

No compulsório sobre exigibilidade adicional (que inclui depósitos a vista, prazo e poupança), o limite de dedução aumentou de R$ 300 milhões para R$ 1 bilhão. O limite de dedução do compulsório sobre depósitos a prazo passou de R$ 700 milhões para R$ 2 bilhões, com impacto de R$ 13,1 bilhões a partir de 17 de outubro.

Os bancos também terão direito a fazer um abatimento em relação ao compulsório recolhido sobre operações de leasing. Em relação ao desconto no compulsório sobre depósitos a prazo para quem comprar carteiras de crédito de outros bancos, muda o patrimônio de referência do banco vendedor, que sobe de R$ 2,5 bilhões para R$ 7 bilhões. O percentual de desconto para quem comprou sobe de 40% para 70%.

Segundo o BC, além de vender a carteira de crédito, os bancos menores poderão vender também outros ativos, principalmente aqueles ligados a fundos de investimentos desses bancos.

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9 de outubro

CMN (Conselho Monetário Nacional) regulamenta as regras para que o BC possa socorrer os bancos que precisem de crédito em dólares ou reais. A regulamentação dá ao BC poderes para interferir na administração dos bancos que venderem suas carteiras de crédito à instituição em busca de recursos.

No fim do dia, o presidente Lula se reúne com o ministro da Fazenda e o presidente do BC, que embarcam para os EUA com a missão de defender uma regulamentação mais rígida dos mercados financeiros no encontro do FMI.

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8 de outubro

O dólar chega a R$ 2,48 pela manhã e obriga o BC a queimar parte das reservas internacionais para acalmar o mercado. Pela primeira vez, desde o dia 13 de fevereiro de 2003, o BC realiza um leilão em que vende parte dos US$ 208 bilhões que tem em caixa.

Nos leilões anteriores, o BC vendia a moeda com um compromisso de recompra. Na prática, isso funcionava como um empréstimo e não afetava as reservas. Foram realizados três leilões. Os valores não foram divulgados.

No fim do dia, o BC anuncia mais duas mudanças nas regras do recolhimento sobre depósitos compulsórios e coloca mais R$ 23,2 bilhões na economia.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, convoca uma reunião do G20 financeiro, presidido atualmente pelo Brasil,na sede do FMI (Fundo Monetário Internacional), nos Estados Unidos.

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6 de outubro

Governo anuncia a criação de uma linha internacional de crédito para ajudar os exportadores, com o dinheiro das reservas internacionais do BC. O governo também reforça a linha de financiamento para exportações pré-embarque do BNDES, com mais R$ 5 bilhões.

No final do dia, o presidente Lula edita uma medida provisória que dá mais poderes ao BC para atuar durante a crise. Entre elas, está a autorização para o BC comprar carteiras de crédito de bancos em dificuldades no Brasil.

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2 de outubro

O BC anuncia a redução do compulsório para os bancos grandes que comprarem parte das carteiras de crédito dos bancos pequenos. A avaliação do governo é que os grandes bancos estão preferindo segurar os recursos a emprestar para essas instituições. A estimativa do BC é que a mudança injete R$ 23,5 bilhões na economia, além de ajudar as instituições menores.

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1º de outubro

O Banco do Brasil antecipa R$ 5 bilhões em crédito para o setor agrícola para suprir a falta de recursos causada pela crise financeira.

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24 de setembro

A crise internacional de confiança nos bancos e a falta de crédito externo afetam os bancos pequenos e médios no Brasil. O BC anuncia então mudanças no recolhimento de depósitos compulsórios, que beneficia bancos menores e instituições que trabalham com leasing. Com isso, o BC garante a injeção de R$ 13 bilhões no mercado.

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19 de setembro

Quatro dias após a quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, o crédito internacional seca e o dólar dispara no Brasil. O Banco Central anuncia um leilão de US$ 500 milhões com compromisso de recompra da moeda após 30 dias. Nessa operação o BC "empresta" os dólares às instituições financeiras durante esse período. Os recursos servem para que os bancos possam financiar as exportações brasileiras.

terça-feira, 14 de abril de 2009

10 questões para entender o tremor na economia

GUSTAVO PATU
da Folha de S.Paulo

O que era uma onda de calotes no mercado imobiliário dos Estados Unidos se transformou em uma crise nos mercados de ações, de crédito e de câmbio do planeta --e os efeitos já começam a chegar ao comércio, aos empregos e ao cotidiano de todos. As próximas páginas procuram trazer à linguagem comum as origens da crise, a dinâmica do mundo financeiro e os desafios a serem enfrentados pelo Brasil.

Leia a seguir dez explicações que ajudam a entender a atual crise:

1 - Como um momento de euforia econômica se transforma em pânico financeiro?
2 - Se as autoridades culpam os especuladores, por que a especulação não é coibida?
3 - Por que os bancos quebram? Por que são socorridos?
4 - De onde os bancos centrais tiram dinheiro para injetar nos bancos?
5 - Se as ações não estão diretamente envolvidas na crise, por que as Bolsas desabam?
6 - Por que o governo não consegue controlar a cotação do dólar?
7 - O que acontece em uma recessão?
8 - Por que o Brasil tende a crescer menos?
9 - Por que as empresas brasileiras que nada têm a ver com as origens da crise tiveram prejuízos milionários?
10 - Quais são as opções do governo brasileiro para lidar com os efeitos da crise?

1 - Como um momento de euforia econômica se transforma em pânico financeiro?

Crises especulativas como a atual --documentadas desde o século 17, com dimensões variadas-- são sempre gestadas em momentos de juros baixos e crédito farto, mais comuns em fases de prosperidade. E a economia mundial vivia o melhor momento desde a década de 70.

O acesso mais fácil ao dinheiro reduz a noção geral de risco. Tanto profissionais do mercado quanto cidadãos comuns se tornam mais propensos a investimentos ousados, em busca de lucros mais altos e rápidos.

Nesse cenário, surgem as 'bolhas': um tipo de investimento -sejam ações, moedas, imóveis, empréstimos ou, em tempos mais remotos, canais, ferrovias e até tulipas- se torna uma mania e se valoriza muito além das reais possibilidades de retorno. Cria-se um círculo vicioso: quanto mais gente entra no mercado, mais ele se valoriza; quanto mais se valoriza, mais gente entra.

No caso atual, a bolha foi criada no mercado imobiliário americano, antes de se disseminar por outros mercados e países. Casas e apartamentos com preços em alta serviam de garantia para financiamentos imobiliários que ajudavam a elevar os preços. A espiral culminou em financiamentos de altíssimo risco para clientes sem capacidade de pagamento.

Os participantes do mercado sabem que a festa não vai durar para sempre. Paradoxalmente, isso estimula a corrida à especulação: os investidores querem aproveitar a oportunidade antes do estouro da bolha.

Como se sabe que a situação é insustentável, o primeiro sinal --quebra de banco, disparada de uma moeda, moratória-- causa pânico geral, e todos querem fugir ao mesmo tempo e multiplicam as perdas. Decisões individuais racionais, portanto, podem levar a comportamentos coletivos irracionais.

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2 - Se as autoridades culpam os especuladores, por que a especulação não é coibida?

Os especuladores, tratados no coletivo e no anonimato, são bodes expiatórios convenientes quando as crises explodem. Evoca-se a antipatia dedicada aos gananciosos que desejam enriquecer sem produzir, deixando em segundo plano os questionamentos à política econômica ou à atuação dos órgãos reguladores.

Propostas para restringir a especulação são antigas e periodicamente lembradas. A mais famosa, do economista americano James Tobin, é a de criar um imposto sobre todas as transações financeiras, uma espécie de CPMF global, para tornar mais lentos e mais caros os movimentos do mercado. Nas palavras de seu idealizador, jogar 'um pouco de areia' nas engrenagens do sistema.

Passadas as crises, no entanto, as ameaças e limites impostos aos especuladores são esquecidos ou contornados. Em parte porque o setor financeiro é influente no mundo das idéias e da política, mas, principalmente, porque a especulação é um dos motores da economia de mercado.

Os especuladores --aqueles unicamente interessados em comprar e vender com lucro- viabilizam e expandem os mercados de ações, de moedas e de títulos. Se não fosse a especulação, só compraria ações, por exemplo, uma meia dúzia de fato interessada em se tornar sócia de uma empresa.

A riqueza financeira se distancia cada vez mais dos valores que enxergamos diariamente. Em 1980, o volume de dinheiro aplicado no mercado financeiro era 20% superior à riqueza produzida no mundo. Em 2006, mais de 200%.

O Produto Interno Bruto global, no período, quase quintuplicou, de US$ 10 trilhões para US$ 48 trilhões. Mais espantoso foi o salto do volume de dinheiro aplicado nos bancos, em títulos e ações, que foi de US$ 12 trilhões para US$ 167 trilhões. Mais dinheiro no mercado significa mais possibilidades de investimento e crescimento -e mais riscos também.

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3 - Por que os bancos quebram? Por que são socorridos?

Uma pessoa ou uma empresa quebrada é a que não consegue pagar suas dívidas. Um banco quebrado é o que emprestou dinheiro a quem não conseguiu pagar as dívidas, como mutuários do subprime americano.

O papel do sistema financeiro é intermediar o encontro entre os que desejam poupar e os que desejam investir. Sua tarefa é selecionar pessoas e empresas mais aptas a progredir e a conseguir pagar com juros o dinheiro recebido. Os menos aptos pagam juros maiores para compensar o risco.

Nos financiamentos imobiliários tradicionais, o banco empresta recursos da poupança. Para os mutuários sem emprego, sem documentos e sem garantias dos EUA, a operação foi muito mais sofisticada.

Os empréstimos serviram de base para títulos que proporcionavam a seus compradores os superjuros cobrados nos financiamentos imobiliários. De pequeno valor unitário e livremente negociáveis, títulos permitem que os credores se tornem múltiplos e anônimos.

Os títulos, por sua vez, serviram de base para derivativos, ou seja, contratos em que as partes perdem ou ganham a partir da variação de um ativo financeiro, muito semelhante a uma aposta num cassino.

A sofisticação não removeu o obstáculo mais prosaico e previsível: os pobres-coitados que habitam a economia real não puderam mais pagar as dívidas.

Administradores de poupança pública, os bancos podem provocar perdas generalizadas ao quebrar. E, quanto maior o erro, maior a chance de socorro por governos que querem evitar ou atenuar uma onda de falências e desemprego.

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4 - De onde os bancos centrais tiram dinheiro para injetar nos bancos?

Os bancos centrais, mesmo os que estão formalmente subordinados a governos, como o brasileiro, têm poder de decisão para movimentar diariamente enormes quantias, necessárias para a execução da política monetária, ou seja, de controle do volume de dinheiro e crédito na economia.

Dos seus superpoderes, o mais usual e importante são as operações de mercado aberto, em que se negociam títulos com bancos. Quando querem elevar a oferta de moeda e reduzir juros, os bancos centrais compram títulos --como fizeram na semana passada os seis principais BCs do mundo.

Quando se deseja um aperto monetário, como o BC brasileiro vem fazendo para conter a inflação, vendem-se títulos, e há menos dinheiro na praça. Os juros dessas operações servem de base para as demais operações da economia e, por isso, são chamados de "taxa básica".

Para regular a oferta de crédito, os bancos centrais recolhem parte dos depósitos em contas correntes e aplicações financeiras. Nos últimos dias, o BC brasileiro liberou mais de R$ 100 bilhões desse recolhimento compulsório para tentar conter queda do volume de empréstimos e financiamentos.

Por fim, os bancos centrais têm o papel de atender, a seu critério, bancos que não conseguem obter no mercado recursos para operações diárias. Por maiores que sejam, esses empréstimos à base de emissão de moeda só resolvem problemas momentâneos de liquidez.

Se o banco tem problemas patrimoniais, ou seja, se o dinheiro dos devedores for insuficiente para saldar compromissos, seus donos têm de entrar com mais capital. Se não têm dinheiro, a solução do momento é achar um sócio --o governo, ou, mais exatamente, dinheiro dos contribuintes.

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5 - Se as ações não estão diretamente envolvidas na crise, por que as Bolsas desabam?

Quem compra ações se torna sócio de uma empresa e, portanto, espera lucros com a expectativa de crescimento futuro da economia. Se as expectativas para os próximos meses e anos se tornam sombrias, os investidores se desfazem das ações, e o movimento de venda em massa derruba os preços.

Ainda que a maior parte dos participantes do mercado não queira relações duradouras com as empresas, mas apenas comprar e vender com vantagem suas participações, a valorização das ações depende das perspectivas para a empresa em particular e para o mercado em geral.

Ações de empresas diretamente envolvidas na crise, como as de bancos que se aventuraram no crédito arriscado ou nos derivativos a ele atrelados, tendem a cair mais, mas as demais tampouco estão a salvo.

Os mercados financeiros são interligados em todo o mundo. Um investidor que teve prejuízo com derivativos no Japão, por exemplo, pode ser obrigado a vender ações no Brasil para cobrir as perdas.

Ações são o que se chama de investimento de renda variável. Diferentemente de quem aplica na poupança ou em um CDB, os compradores de ações não sabem quanto nem quando vão ganhar. Sabem apenas que pretendem ganhar mais do que oferecem as opções conservadoras de renda fixa.

Não por acaso, há uma sucessão frenética de compras e vendas nas Bolsas, o que faz o índice geral das ações alternar altas e baixas em questão de minutos. O mercado brasileiro, com grande presença de capital estrangeiro e concentrado nas ações de poucas empresas grandes, como a Petrobras e a Vale do Rio Doce, tende a ser ainda mais volátil --ou seja, apresentar percentuais mais elevados de alta ou de baixa- do que a média das Bolsas de Valores do mundo.

Emoções à parte, quando se observa o comportamento do mercado em períodos mais longos, medidos em décadas, a tendência geral é sempre de alta -porque, afinal, também assim funciona, aos trancos e barrancos, o capitalismo.

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6 - Por que o governo não consegue controlar a cotação do dólar?

O câmbio é o preço mais importante da economia, mais ainda em países, como o Brasil, cujas moedas não são aceitas como pagamento de importações ou pagamento de dívidas com o exterior.

O preço do dólar afeta o comércio, a inflação, as contas do governo, o crescimento econômico e a popularidade dos governantes.

Ainda assim, o governo passou os últimos anos tentando, sem sucesso, segurar a valorização do real -e as últimas semanas tentando, também inutilmente, deter a disparada do dólar. Devido a essa incapacidade, proclama-se oficialmente, desde 1999, que o câmbio é livre no Brasil.

Não é difícil entender: o mercado de câmbio é o maior dos mercados financeiros, com movimento diário de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões que podem ir de um extremo a outro do planeta em alguns segundos.

Mesmo as nada desprezíveis reservas de US$ 200 bilhões acumuladas pelo Banco Central poderiam virar farelo se o governo tentasse, como no passado, administrar sua taxa de câmbio em um cenário de livre fluxo de capitais.

Para manter o câmbio, o governo precisa atender aos movimentos de compra e venda do mercado: se falta dólar, precisa vender suas reservas para ampliar a oferta e evitar uma disparada das cotações; se sobra, compra o excesso para manter o preço estável.

Nos últimos meses de câmbio administrado, o país precisava paralisar sua economia com juros de 40% ao ano na tentativa de atrair os dólares necessários.

Mas esse não é um caso de incompetência nacional. Os Estados Unidos e o Japão adotaram o câmbio flutuante na década de 70, e a Europa, nos 90.

Onde houve liberdade, o fluxo de capitais derrubou o sistema de cotações que havia sido acertado entre os países na conferência de Bretton Woods, em 1944 -a última iniciativa de controle das finanças globais, sempre lembrada em tempos de crise e esquecida logo depois.

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7 - O que acontece em uma recessão?

Uma recessão começa quando investidores acreditam que a hora não é boa para investir e consumidores crêem que a hora não é boa para consumir. E, na tentativa de protegerem sua riqueza, todos empobrecem.

O desalento não é um mero estado de espírito. Empresas e famílias afetadas pela crise perderam efetivamente condições de investir e consumir, como os donos de ações e imóveis que perderam valor. Não se trata de um caso em que uns perdem e outros ganham, num jogo de soma zero: essa riqueza simplesmente desapareceu.

Quando não se confia no futuro, o medo toma o lugar da ganância. Evita-se emprestar dinheiro e procura-se poupar para dias difíceis. Mas, com a retração de investimento e consumo, empresas vendem menos; com a queda nos lucros, há mais demissões; com menos renda, as famílias cortam o consumo, e o ciclo recomeça.

Tecnicamente, os economistas consideram que há uma recessão quando o PIB (Produto Interno Bruto) cai por dois ou três trimestres consecutivos. Quando se imagina uma queda profunda e prolongada do PIB, fala-se, mais dramaticamente, em depressão --mas, após a década de 30, nenhum período da história econômica mundial chegou a merecer o termo.

Recessões mundiais são raras: na história recente, não há casos de anos em que o PIB global tenha terminado menor do que começou. Em 1982, em meio à crise da onda de calotes do Terceiro Mundo, a economia mundial cresceu 0,9%, e desde então não houve resultado pior. No Brasil, a pior recessão ocorreu em 1990, quando o Plano Collor confiscou depósitos bancários e o PIB caiu 4,4%.

8 - Por que o Brasil tende a crescer menos?

Depois de dois anos seguidos de expansão econômica na casa dos 5%, o governo já decretava que fazia parte do passado a comparação entre o crescimento brasileiro e um vôo de galinha. Agora, a galinha está prestes a pousar mais uma vez.

Não há, até o momento, previsões de recessão, mas é consensual que os percentuais de crescimento serão mais modestos em 2009. Andar mais devagar não é tão ruim quanto andar para trás, mas os efeitos econômicos e políticos são da mesma natureza.

O Brasil já sofre com a retração mundial do crédito. Boa parte do dinheiro emprestado aqui dentro é obtida lá fora. Com recessão nos Estados Unidos e na Europa, encolhe o mercado para as exportações brasileiras, que também cairão de preço. Multinacionais tendem a cancelar ou adiar planos de expansão no país.

Outra ameaça é a recente disparada do dólar, que não se sabe onde ou quando vai parar. Se o dólar se mantiver alto, importações ficarão mais caras e a inflação tenderá a subir. Nesse caso, o Banco Central, na contramão do resto do mundo, poderá optar por subir ainda mais os juros e conter o consumo, o investimento, o crescimento e os preços.

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9 - Por que as empresas brasileiras que nada têm a ver com as origens da crise tiveram prejuízos milionários?

Empresas entram no mercado de derivativos para se protegerem de perdas, enquanto os especuladores assumem os riscos para ganhar. Sadia, Aracruz e Votorantim --entre muitas outras, teme-se-- acabaram participando de uma tentativa de fazer as duas coisas.

Embora o nome cause estranheza, derivativos fazem parte do cotidiano de quem faz, por exemplo, o seguro de um automóvel. O dono do carro não quer sair mais rico do negócio; quer simplesmente uma operação que, se for preciso, renderá dinheiro suficiente para cobrir possíveis prejuízos de sua atividade de motorista. É o que se chama de hedge.

Na outra ponta da operação, está um especulador apostando que o carro não será batido nem roubado, a seguradora. Se a aposta estiver correta, ela ficará com o prêmio pago pelo dono do carro.

Os demais derivativos podem ser mais complexos, mas seguem os mesmos princípios. Empresas exportadoras, com receita em dólar, buscam se proteger de uma desvalorização vendendo a moeda americana no mercado futuro por uma cotação considerada razoável. Se o dólar mudar de patamar, a perda em receita será compensada pelo derivativo.

Como o dólar caía sem parar, os bancos passaram a oferecer às empresas operações que prometiam ganhos superiores ao necessário para cobrir riscos de perdas. O que era hedge virou especulação. E dava lucro, até a crise provocar uma alta inesperada do dólar -que, se não for revertida, poderá revelar mais empresas no jogo e perdas maiores.

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10 - Quais são as opções do governo brasileiro para lidar com os efeitos da crise?

A primeira reação do governo tem sido tentar evitar ou atenuar a secura de crédito, cuja expansão foi um dos motores da economia brasileira nos últimos anos, embora retórica oficial prefira dar mérito ao PAC.

Mas, como aconteceu em todas as crises recentes, o país pode ser obrigado a escolher entre crescimento e inflação --sacrificar o primeiro para evitar a segunda ou, na alternativa menos conservadora, tentar acelerar um correndo o risco de impulsionar a outra.

No primeiro caso, a receita é conhecida: os juros são mantidos ou até elevados, e o mesmo é feito com a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação tributária destinada ao abatimento da dívida pública). As medidas reduzem o consumo público e privado, esfriam a economia e ajudam a impedir que a alta do dólar se transforme em aumento da inflação.

Esse era o cenário traçado antes do agravamento da crise, quando as atenções do governo se voltavam para a rápida piora da balança comercial, efeito colateral do consumo em alta. O projeto de Orçamento de 2009 já contempla a possibilidade de aumentar superávit primário.

Mas a perspectiva de contração econômica acima do esperado levou setores menos ortodoxos da equipe econômica a falar, até aqui no anonimato, em medidas pró-crescimento, de mais gastos públicos, menos impostos e menos juros. É o que os economistas chamam de política anticíclica: quando a economia vai bem, o governo faz mais economia; quando vai mal, gasta-se. No caso brasileiro, já não há mais tempo para a primeira parte do plano.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Para Lula, estancar a crise deve ser a prioridade do G20

BRASÍLIA - Ao comentar a reunião do G20 realizada em Londres na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que há "vontade política" e "disposição extraordinária" por parte dos líderes e que a prioridade, a partir de agora, é "estancar a crise". Ele elogiou ainda a decisão do grupo de retomar as discussões da Rodada Doha.

Lula ressaltou que houve consenso em relação às medidas a serem adotadas para reduzir os reflexos da crise financeira internacional e que, "pela primeira vez", os presidentes demonstraram "maturidade" para lidar com o problema.

"Eu disse que os países emergentes não estavam precisando apenas da ajuda dos países ricos e que o que nós queríamos era que os países ricos resolvessesm suas próprias crises para que a gente pudesse voltar à normalidade", disse, em seu programa semanal Café com o Presidente.

Lula lembrou que a crise nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia é de "grande profundidade" e que, por serem as economias com maior quantidade de crédito, "na medida em que páram, pára a economia mundial".

"Penso que foi um passo extramamente importante para que os países que estão em piores situações possam voltar a crescer em 2010."
Para o presidente, medidas anunciadas durante o encontro - como a decisão de fortalecer instituições multilaterais de financiamento - irão trazer resultados para os mais afetados pela crise, uma vez que as "condicionalidades da década de 80" para a concessão de financiamento não existirão mais.

Os líderes mundiais, segundo ele, estão "convencidos" de que é preciso retomar o crédito para facilitar o fluxo na balança comercial e que as economias precisam voltar a gerar empregos. Para Lula, esse é o sinal de que o Brasil está "totalmente correto" ao tomar medidas como fortalecer obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

"Anunciamos um programa habitacional, um novo programa de redução de impostos para o carro e para a construção civil. Se todos os países fizerem isso, temos uma grande possibilidade de ver o emprego voltar a acontecer na vida das pessoas."
(Agência Brasil)
UOL

sábado, 14 de março de 2009

PIB mundial terá queda ainda maior, preveem bancos (Tribuna da Imprensa)

SÃO PAULO - A economia global vai se contrair em 1,8% neste ano, segundo o IIF (Instituto de Finanças Internacionais, que reúne 380 grandes bancos), 0,7 ponto percentual mais do que o organismo estimou em janeiro, mostrando a piora das condições econômicas mundiais.

O instituto pediu para que os governos aprovem novos pacotes de estímulo fiscal que terão "efeito imediatos" e disse que mais cortes nas taxas básicas de juros serão necessários.

O IIF não foi o único a revisar as suas projeções para a economia mundial. Pela segunda vez em menos de dez dias, o banco americano Goldman Sachs diminuiu a sua estimativa. Prevê uma queda de 1% no PIB global, 0,4 ponto percentual mais do que a projeção anterior.

Pelas estimativas do Goldman Sachs, a economia alemã, a maior da Europa, se contrairá em 5,2% neste ano _o dobro da estimativa anterior. Para o PIB espanhol, a expectativa é de queda de 3,6%, e, para o francês, de 2,9%.

Nos últimos dias, dirigentes do Banco Mundial e do FMI disseram que a economia mundial vai se contrair neste ano. Caso as previsões se confirmem, será a primeira retração do PIB global desde o fim da Segunda Guerra, em 1945.

O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, afirmou ontem que este ano deverá ser "muito perigoso" para a economia global, mas alertou que os países não devem usar políticas protecionistas para tentar enfrentar a retração. Ele disse recentemente ao jornal inglês "Daily Mail" que o PIB global deverá se contrair entre 1% e 2% neste ano.

sábado, 7 de março de 2009

A crise de 1929 e a de agora, 80 anos depois - Diferenças, semelhanças, dessemelhanças (Helio Fernandes)

Além de errarem na avaliação e na duração da crise que começou nos EUA, os economistas cometeram 62 cálculos equivocados, o que garante a todos eles um possível ou suposto Prêmio Nobel da idiotice, combinado com o da imprudência e da incompetência. Só que, apesar de tudo, são ouvidos e seguidos.

Também insistem em comparar 1929 com 2009, Roosevelt com Obama. Algumas coisas são parecidas, mas o que vale mesmo é a dessemelhança. (“O quão dessemelhante”.) 80 anos depois, juram que as crises são iguais. São parecidas pelo fato de envolverem muito dinheiro, aventureiros financeiros e nenhuma fiscalização.

Todo o resto é diferente, inteiramente diferente.

A crise de 1929 teve a agravá-la a incompetência do presidente Herbert Hoover, eleito em 1928 e que só deixaria o Poder no início de 1933. Qualquer que seja o julgamento de Bush, Hoover (nenhum parantesco com o Hoover da CIA) foi muito pior.

O que chamam de “crack” da Bolsa de 1929 ficou pairando 4 anos, sem nenhuma intervenção oficial. Roosevelt era governador de Nova Iorque (1928-1932) e só assumiria a Casa Branca em 5 de março de 1933. Aí, sim, tomando as providências enérgicas e necessárias, estatizando tudo, desde energia, a metrô, água, ferrovias, nada parecido com o que se faz agora. Quando “compram” 36 por cento das ações do Citibanque, ações que serão devolvidas não demora muito.

Em 1929/30 ruim mesmo era a situação financeira. Mas se restringiu ao plano financeiro. (Foi aí que surgiram os “derivativos” e a “alavancagem”, que destruíram tudo. Quando o primeiro resolveu vender suas ações depois de 8 anos de alta ininterrupta, o edifício financeiro desabou.)

Centenas e centenas de aventureiros se mataram, o que, i-n-f-e-l-i-z-m-e-n-t-e, não aconteceu agora. A situação econômica era diferente. Tanto que, no mesmo ano, começaram a construir o Empire State Building, o edifício mais alto do mundo. E a seguir o da Chrisler, em frente ao Hotel Plaza, vizinho do Central Park, área valorizadíssima.

Os acontecimentos no mundo, também eram conflitantes, a palavra era e é essa. Roosevelt assumiu em 1933, mesmo ano em que Hitler era escolhido primeiro-ministro da Alemanha e começava a Segunda Guerra Mundial. (“Protegido” por Daladier, primeiro-ministro da França, e Chamberlain, primeiro-ministro da Grã-Bretanha.)

Em 1936, Roosevelt terminava seu primeiro mandato, morria o presidente da Alemanha, marechal Hindemburg, Hitler assumia o Poder total, que já exercia de fato. E em 1939, Roosevelt acabava o segundo mandato quando Hitler incendiava o mundo, na busca do que chamou de “Reich dos mil anos”, que não passaram de 10 ou 12.

Em 11 de novembro de 1918, em Versalhes, na Floresta de Compienes, a Alemanha assinava a “rendição incondicional”. (O Brasil representado por Epitacio Pessoa, que por isso seria presidente a seguir.) A Alemanha se comprometia a não ter Exército, Marinha e Aeronáutica. Só que 9 anos depois já dominava o mundo com suas poderosas forças armadas. Isso, surpreendente e contraditoriamente ajudou os países a se reerguerem. (Os criminosos de guerra mais perigosos não foram Hitler, Göering, Rommel, Goebels, e sim o doutor Schacht (gênio das finanças) e Albert Speer, o grande arquiteto da reconstrução.

Não compareceram ao Tribunal de Nuremberg, como réus, foram salvos pelos EUA. Passaram a trabalhar para os americanos, que consideravam “crime inominável” tirar a vida de “gênios” como eles.

Tendo assumido com 16 milhões de desempregados (os EUA têm hoje 13 milhões e a UE 18 milhões), Roosevelt diminuiu muito esse total, com a estatização verdadeira. Mas os desempregados desapareciam a partir de 7 de dezembro de 1941, com o ataque traiçoeiro do Japão. Praticamente todos os homens foram convocados, tudo transformado em “indústria de guerra”, sob o comando de John Kenneth Galbaith.

Como se vê, as aparências enganam, principalmente para os que não sabem ver em profundidade. Essa Segunda Guerra Mundial durou 6 anos, sem recessão, sem depressão, sem inflação. E ainda alimentaram o Plano Marshall, que a longo prazo destruiria a União Soviética. Elevaram os gastos militares a números tão avassaladores, que quando atingiram 70 por cento do orçamento soviético ela foi destruída, com a ajuda traidora de Yeltsin e Gorbachov.

PS – Isso é apenas um pedaço pequeno da História. A crise financeira de 1929 não se transformou em econômica. E pôde esperar 4 anos pela posse de Roosevelt.

PS 2 – A crise financeira de agora já traz em si mesma a condição de trauma econômico. Obama não pode esperar 4 anos, tem que tomar providências antes de completar 2 meses de governo. E já é cobrado de todas as formas. É a grande diferença que vai soterrar a esperança.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Obama diz que recuperação econômica dos EUA será difícil

da Efe, em Washington

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou que a recuperação econômica do país será difícil, apesar do pacote de estímulo que contempla um investimento de US$ 787 bilhões para recuperar a economia americana.

"O caminho que temos pela frente está cheio de perigos", afirmou Obama em discurso por rádio, transmitido todos os sábados aos americanos. O presidente afirmou que, com "força e sabedoria", o país poderá levar à frente a estratégia para "superar a crise".

Obama disse que o pacote que promulgou esta semana constitui "o plano de recuperação econômico mais profundo da história" e, como resultado de sua aplicação, três milhões e meio de americanos poderão fazer o trabalho que o país precisa.

O plano inclui ajudas para os estados, para educação e saúde, auxílio aos que correm perigo de execução de suas hipotecas e outros programas sociais, além de reduções tributárias.

Porém, Obama advertiu que o plano "é só o primeiro passo na recuperação econômica". "Não podemos deixar de completar esta caminhada", afirmou.

Para o presidente americano, isso exigirá neutralizar o aumento das execuções hipotecárias e a queda no valor dos imóveis, assim como a estabilização e reparação do sistema bancário para permitir que os créditos voltem a ser concedidos a famílias e empresas.

Obama frisou que dentro desse caminho para a recuperação também será necessário fazer "tudo o que existir para pôr sob controle o crescente déficit" fiscal, que beira US$ 1 trilhão.

Com esse último objetivo, Obama disse que na segunda-feira convocará uma reunião de especialistas, sindicatos e grupos independentes, além de membros do Congresso, para analisar formas de reduzir o déficit que diz ter sido "herdado".

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Crise americana: onde começa e acaba o Estado (Pedro do Couto)

Embora Câmara e Senado dos EUA tenham chegado aparentemente a um consenso sobre o pacote de medidas proposto pelo presidente Barack Obama para enfrentar a crise financeira que continua avançando e se alastrando, a tempestade está longe de ser contida e resolvidos seus efeitos mais imediatos.

Em primeiro lugar, como revelou o correspondente de "O Globo" em Washington, José Meireles Passos, na edição de 12 de fevereiro, o montante do apoio que chegou a ser anunciado na escala everestiana de 2 trilhões de dólares (15% do PIB dos EUA) desceu para 789,5 bilhões de dólares.

O trabalho de Meireles Passos é primoroso. Reúne as perguntas em torno do elenco de iniciativas e cobra as respostas concretas. Estas ainda não apareceram. Passo a ter a impressão de que o conjunto de ações ainda se encontra na área de decolagem.

Mais marketing, menos conteúdo. Seja como for, a questão essencial reside na indagação: onde começa e termina o Estado em toda a questão que explodiu com o subprime? Este é o problema, raiz de todos os demais. Pois a ganância dos executivos americanos (e dos bancos também) destruiu a tese do Prêmio Nobel de 76, Milton Friedman, que sempre negou fortemente o impulso de que ganhar dinheiro de qualquer maneira seja a fonte das crises econômicas.

O subprime respondeu afirmativamente. Como no verso de Chico Buarque, a vida tem sempre razão. Não adianta complicar as coisas. A lógica, fundamental à vida humana, é sempre clara. Não fosse clara e transparente, não seria lógica.

José Meireles fez várias entrevistas, ouviu especialista, entre eles o também Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman. Também colunista do "New York Times", Krugman concluiu que a crise está fora de controle.

Afinal, colocou-se, quem vai avaliar o valor dos títulos de empresas desqualificadas? Quais as garantias que o governo oferece para que investidores privados comprem títulos podres? Quem garante que a operação resgate dos bancos em crise é solução para os casos de hipotecas cujas prestações encontram-se em atraso? Estes casos são em torno de um milhão de residências.

Por que a Casa Branca socorre os bancos insolventes e não os mutuários? Se estes voltarem a pagar suas dívidas, os estabelecimentos de crédito melhoram sua liquidez.

Quais os tipos de ativos que os bancos venderiam para transformar a operação em dinheiro? Qual o volume a ser destinado aos grandes bancos? Esta pergunta é decisiva.

Pois os grandes bancos poderiam transformar os créditos em jogada lucrativa, assumindo os menores. Qual o tempo previsto para o encadeamento e execução do programa? Não pode ser indefinido. Neste caso, ocorreria uma estatização que levaria a uma imensa concentração de capital. Com dinheiro público.

Assim, todas as questões relacionadas pelo correspondente de "O Globo", da mesma forma que todos os caminhos levam a Roma, conduzem à indagação: onde começa e onde termina a ação do Estado? Tudo isso que está acontecendo prova que sem o poder estatal nada é feito.

Da mesma forma que sem o capitalismo, seja ele estatal ou privado. No fundo de tudo, predominam de modo absoluto tanto o capital, com sua ideia de lucro, quanto o Estado como ponto de partida e chegada. Interessante este tema. Hegel, Marx, Sartre, não pensaram na dualidade que ele contém. Uma pena.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Manchete: Crise bancária se agrava nos EUA

O Estado de S. Paulo

Duas das maiores instituições financeiras dos Estados Unidos anunciaram ontem perdas bilionárias, aprofundando a crise bancária americana. O Citigroup teve prejuízo de US$ 8,29 bilhões no quarto trimestre de 2008. No mesmo período, o Bank of America perdeu US$ 1,79 bilhão. Numa reação às dificuldades, o Citigroup divulgou os detalhes do plano de reestruturação que vai dividir a instituição em duas partes. Informou, ainda, ter finalizado os termos do acordo pelo qual o Tesouro dos EUA vai garantir eventuais perdas até o limite de US$ 301 bilhões. O Citi acumula prejuízos há cinco trimestres consecutivos e já demitiu 50 mil trabalhadores. No caso do Bank of America, o governo confirmou a liberação de uma ajuda adicional de US$ 20 bilhões. Além disso, comprometeu-se a bancar perdas de até US$1l8 bilhões. A maior parte dessas garantias se refere a ativos do Merryl Lynch, comprado pelo Bank of America em setembro, em negócio estimulado pelas autoridades americanas. Apesar da ajuda oficial, as ações do Citigroup caíram 8,62% e as do Bank of America, 13,8%. (págs. 1, B1 e B3)