sábado, 24 de março de 2012


Prefácio escrito por Rose Marie Muraro para o Livro "Metodologia Científica de Enfermagem", de autoria de Rosalda Paim

                 Numa sociedade dominada por uma raça (branca), um sexo (masculino) e países hegemônicos, a situação da mulher é sempre determinada pela interação dessas três variáveis.
                 Assim, a sua submissão psicológica ao homem e a sua dominação econômica em relação a esse mesmo homem e ao sistema econômico se exercem concretamente em cada minuto de sua vida, em cada gesto, no espaço que ela ocupa, etc...
            Uma das maneiras concretas de se submeter a mulher é, na força de trabalho, inferiorizar as profissões em que o sexo feminino vai predominando.
                  Assim acontece com o magistério, a assistência social e com a  enfermagem.
               No magistério, onde a mulher se concentra mais nos graus preliminares, os salários são baixíssimos. Eles vão aumentando à medida que a incidência de mulheres diminui, como por exemplo, no nível superior.
        No que diz respeito à enfermagem, o caso é ainda mais grave. A enfermeira é o principal responsável pela vida do doente.
            O médico faz o exame, emite o diagnóstico, prescreve os medicamentos, mas o cuidado concreto está nas mãos da enfermeira. O caso se complica ainda mais quando, em países como o Brasil, cujo estágio de desenvolvimento é de tal ordem que se permite a pessoas não qualificadas assumirem o "status" de outras melhor treinadas, por que se paga menos e o lucro pode ser maior.
          Este é o caso das instituições em que oficiosamente é permitida a substituição da enfermeira por pessoas muito menos treinadas.                
                 Assim vemos como o desejo de lucro pode afetar diretamente vida e como as profissões relacionadas com esta mesma vida são desqualificadas, porque nelas, com mais frequência, se encontram concentradas as mulheres.
                 Isto se torna patente quando vemos que as profissões mais bem remuneradas são aquelas exercidas principalmente pelos homens. É o caso das profissões altamente especializadas na área tecnológica e econômica, através das quais se perpetua o sistema tecnocrático que coloca em primeiro lugar as realizações materiais e em último a vida na sua concretude.
                 A nossa luta pela revalorização das profissões diretamente ligadas à conservação e à manutenção da vida, em última instância, significa uma profunda reviravolta no sistema tecnocrático, que pode, a longo prazo, substituir este sistema concentrador e excludente por um outro mais participativo e integrador em que a vida e  não  o  lucro seja o centro do processo.  
                 Por isso lutamos pela revalorização da profissão de enfermeira e parabenizamos àquelas que, juntamente com a Deputada Rosalda Paim, conseguiram obter do Congresso Nacional a regulamentação desta profissão através da Lei no. 7.948 que lhe dá uma nova dignidade e que faz com que de agora em diante a vida humana possa estar nas mãos de pessoas suficientemente qualificadas para tanto.

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